A crescer na <i>Serlima</i>
Na lavandaria industrial do Montijo, que trata a roupa de vários hotéis da Grande Lisboa, 15 das 30 trabalhadoras efectivas estão a recusar trabalho extra desde dia 1. Francisco Lopes e a delegação do Partido esperaram a saída do turno, às 17 horas (é recusado o prolongamento até às 19), para transmitirem palavras de solidariedade e apoio. No grupo de operárias da Serlima Wash II que ali se reuniu, estão uma dirigente do Sindicato dos Têxteis e Vestuário do Sul, Graça Fernandes, que esteve neste turno, e uma delegada sindical, Sónia Sever, que fez questão de comparecer ao encontro, apesar de estar de férias.
Quando alguém recorda que a greve foi decidida num plenário, a 20 de Julho, com a participação de mais trabalhadoras do que as que estão a recusar horas extra, dizem esperar que a adesão vá subir, logo que todas sejam confrontadas com os recibos do salário e se apercebam do corte no valor das horas.
Contam que, entre as demais camaradas do quadro efectivo e mesmo entre as quase três dezenas que estão contratadas pela empresa de trabalho temporário deste grupo, a Serlima Target, há quem, não entrando ainda na greve, reconheça a razão da luta e a coragem das que decidiram dizer não ao patrão. E logo surge o comentário oportuno: é preciso continuar a chamá-las para o lado da greve e lembrar-lhes que, quantas mais estiverem na luta, mais força ganharão todas.
Cristina Pereira, dirigente que nos órgãos executivos do sindicato acompanha a Serlima, assinala que este não é caso único, porque os patrões das lavandarias industriais sentem-se à vontade para desrespeitarem os direitos dos trabalhadores, como igualmente acontece na Lavapor e na SUCH.
Na unidade do Montijo, a greve tem motivos que são anteriores a 1 de Agosto e se prendem precisamente com o não cumprimento de direitos reconhecidos. Houve, até, a expressa declaração patronal de que não aceita o contrato colectivo aplicável à empresa, para não atribuir o descanso complementar que decorre do trabalho extra.
Com isto, e com o adiamento do pagamento do subsídio de férias e a recusa de pagar como feriado o dia de Carnaval de 2012, juntamente com um «pedido», tão insolente quanto ilegal, para que quem está em greve informe disso a empresa, compõe-se um quadro que ficou bem ilustrado numa comunicação interna de 2 de Agosto. Este quadro ajuda também a compreender os motivos por que, desde a última greve geral, foi rompida na Serlima a «tradição» de não haver lutas laborais.
O prolongamento da jornada por mais duas horas, solicitado em Julho para todo o mês de Agosto, deverá ser necessário para além deste período. Já há notícia, por palavras do próprio patrão, de que a falta do trabalho suplementar está a ser coberta com mais trabalhadoras temporárias, um procedimento cuja legalidade a direcção do sindicato está a analisar.
Mas os efeitos da greve deverão sentir-se ainda mais, com o regresso de trabalhadoras em férias e com o aumento do sentimento de injustiça. O sindicato continua a afirmar que, para a normalidade ser retomada, bastará a empresa comprometer-se, por escrito, a respeitar o contrato colectivo e os direitos dos trabalhadores.